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Geral - 10/03/2025 00:03:00


A mulher que desafiou padrões em Venda Nova

No clima do Dia Internacional da Mulher, conheça a história de Dona Lurdes, que quebrou paradigmas em uma época em que vestir calças era um ato de coragem para as mulheres.

O dia em que Dona Lurdes usou calça pela primeira vez

Na década 1960, época em que em nossa cidade as mulheres seguiam padrões mais conservadores, Dona Lourdes Targa quebrou um tabu. Como tinha um curso de pintura e muito talento para essa área, ela foi convidada para pintar o letreiro da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de Venda Nova.

Mas havia um problema: a pintura seria feita no alto da fachada, e fazer isso de saia era impossível.

Sem alternativa, Dona Lourdes pediu para a mãe costurar uma calça para ela executar o serviço.“Eram verdes”, relembra. Mal sabia ela que aquele simples ato geraria um certo alvoroço na cidade.

O burburinho na cidade e a ameaça de expulsão da igreja

O fato de uma mulher usar calça impactou e o assunto chegou até a igreja. Algumas pessoas sugeriram até que ela fosse expulsa da comunidade religiosa por “desrespeitar os costumes da época” - o que não aconteceu.

Dona Lourdes ainda se lembra de ter sido também a primeira mulher a andar de bicicleta e quando descobriu as vantagens de usar calças uniu o útil ao agradável. “Ai eu gostei. Era quentinho, era bom, você ficava à vontade.”, relembra.

Uma mulher de bicicleta e ainda de calças, despertou alguns comentários maldosos pelas ruas. “Nunca abaixei a cabeça para ninguém. Sempre respeitei muito as pessoas. O que que tinha demais? Nada.” Ela recorda que aos poucos outras mulheres começaram a aderir a vestimenta.

O direito ao voto e a luta por espaço

Se algo tão simples nos dias de hoje, como usar calças já chamou atenção, imagine votar e ocupar espaços de decisão?

Em 1932, as mulheres conquistaram o direito ao voto no Brasil, mas em cidades pequenas, como Venda Nova, a presença feminina nas eleições foi mínima por muito tempo.

As mulheres na roça quase não votavam. Eu disse, eu vou votar. Se a mulher pode, porque eu não vou?”, conta dona Lourdes.

Ela não se candidatou, mas sempre participou dos movimentos da comunidade e quando teve a oportunidade foi exercer seu papel de cidadã através do voto.

O espírito voluntário e a doação ao próximo

Dona Lourdes sempre foi uma mulher engajada. Foi voluntária da Sala de Costura do Apostolado da Oração, uma das fundadoras da Associação das Voluntárias Pró-Hospital Padre Máximo e também atuou na equipe da cozinha da Festa da Polenta.

Mesmo com todos os compromissos com a própria família (ela casou-se aos 22 anos), Lurdes impactou muitas vidas através do voluntariado, mostrando que a força de uma mulher vai muito além de seu trabalho formal e de seus afazeres domésticos.

Acesso ao mercado de trabalho

O trabalho acompanha Dona Lourdes desde muito nova quando já buscava alternativas de fazer renda para ajudar os pais. Trabalhou em casas de famílias como doméstica e também exerceu uma função na Cooperativa de Venda Nova.

Ele relembra que nessa época as mulheres podiam até trabalhar na casa de famílias, “mas fora”, como foi o caso dela na Cooperativa, somente se fosse acompanhada. Para ter esse emprego ela ia junto com o pai, que também trabalhava lá. Ela ajudava a catar o café, selecionando os melhores grãos para valorizar o preço de venda da mercadoria

A força para recomeçar e o empreendedorismo

Dona Lourdes também enfrentou desafios pessoais. Em uma época em que poucas mulheres se separavam, ela tomou essa decisão e precisou se reinventar para continuar a criação das cinco filhas ainda jovens. A mais velha necessitava de cuidados especiais.

Muito prendada, foi nesse momento que começou a fazer bombons e doces caseiros, e através desse trabalho conseguiu reconstruir sua vida. O negócio, tocado com uma das filhas, se consolidou e Dona Lourdes relembra com carinho dos diversos eventos que atendeu ao longo dos anos.

Uma mensagem para as mulheres

Vídeo

A história de Dona Lurdes e o Dia Internacional da Mulher

Dona Lourdes representa tantas outras mulheres que, ao longo da história, desafiaram padrões, enfrentaram dificuldades e abriram caminhos para as gerações futuras.

Hoje, podemos escolher nossas roupas, votar, trabalhar e ocupar qualquer espaço — mas essas conquistas só foram possíveis porque mulheres como ela ousaram romper barreiras.

A jornada continua, mas cada passo conta. No Dia Internacional da Mulher, celebramos todas as que vieram antes e todas as que ainda virão.

Feliz Dia Internacional da Mulher! 




Fonte: ASCOM PMVNI
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